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O caso Thomas Crown
(too old to reply)
Luis Baptista
2003-11-04 21:01:06 UTC
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O caso Thomas Crown

Filme de John McTiernan, EUA, 1999

Um "remake" constitui sempre uma oportunidade de estudar como uma mesma
história é trabalhada em diferentes épocas. Casos há em que filmes míticos
foram rodados duas vezes pelo mesmo autor como Hitchcock com "O homem que
sabia demais" ou Cecil B. De Mille com "Os dez mandamentos". Outras vezes
filmes medianos foram recriados num universo mais pessoal do segundo autor,
como era notoriamente o caso de Scorsese em "O cabo do medo", inicialmente
dirigido por Jack Lee Thompson. Gus van Sant, por outro lado, recentemente
em "Psycho", original célebre de Hitchcock, tentou, diga-se que com pouco
sucesso, seguir tão de perto a planificação do primeiro filme que quase se
pode dizer tratar-se de uma cópia.

"O caso Thomas Crown" de John McTiernan é uma nova versão de "O grande
mestre do crime", filme de Norman Jewison de 1968, com Pierce Brosnan,
também co-produtor, e Rene Russo nos papéis que tinham cabido a Steve
McQueen e Faye Dunaway. As versões originais, aliás, têm o mesmo título. Mas
é interessante verificar de que maneira resistiu a um tempo diferente a
comédia romântica dos anos sessenta, quando estes filmes constituíam quase
um género - par romântico, um assalto elegante, uma estrutura narrativa mais
ou menos repetida em filmes como "Como roubar um milhão" de William Wyler
com Peter O’Toole e Audrey Hepburn ou "Gambit" de Ronald Neame., com Michael
Caine e Shirley MacLaine, ambos realizados dois anos antes de "O grande
mestre do crime", sendo que a própria ideia de "remake" parece inerente ao
cinema de género e particularmente a este, que então actualizava os pares do
passado Gregory Peck ou Cary Grant e Ingrid Bergman e Katherine Hepburn,
nomeadamente.

Mas os filmes de referência no momento actual são outros, nomeadamente o
James Bond, personagem, aliás, dessa mesma época mas de uma distinta
natureza, a quem Pierce Brosnan emprestou o corpo na sua última versão, e
sucedâneos como o "predador" Shwarzenegger que McTiernan retomaria em "O
último herói americano", procurando, aliás sem sucesso comercial, dar a
volta pela comédia e pelo romance ao cinema de músculos e efeitos especiais
actualmente dominante. Por aí talvez seja interessante ver a abordagem de
McTiernan a esta história já anteriormente filmada e também os méritos e os
limites da sua versão.

Há duas cenas coreográficas de "O caso Thomas Crown" que mostram bem a opção
do filme quanto ao estilo: o primeiro encontro sensual do par e um baile num
momento posterior de reencontro, já que o emblemático vôo no planador não
ganha o carácter coreográfico de uma sequência semelhante do primeiro filme.

A dança exprime o jogo de sedução e desafio que sustenta o romance (tal como
o jogo de xadrez na versão McQueen/Dunaway), mas ao mesmo tempo mostra uma
característica de dureza que contrasta com o movimento interno do filme
original.

Essa mesma característica, aliás, está bem patente na primeira meia hora do
filme, na sequência, em paralelo ao quotidiano da especulação financeira do
protagonista, do assalto ao Met de Nova Iorque, que precede o roubo do Monet
à volta do qual gira o filme, com Rene Russo como uma caçadora de prémios
para defender a Seguradora lesada pelo arrojado roubo ( a deslocação de um
roubo financeiro para o mercado da arte e dos falsários reaproxima o filme
de "Como roubar um milhão", referência óbvia do primeiro filme).

O trabalho ao nível da música, com um ritmo mais sincopado na composição de
Bill Conti, significativamente diferente do plano melódico da música de
Michel Legrand (do qual o filme retoma, num tratamento condizente com o
actual filme, a canção "The windmills of your mind" então vencedora de um
"oscar") e a escolha dos actores (Pierce Brosnan e Rene Russo parecem mais
talhados para o "thriller" do que para o romance e significativamente
parecem mais à vontade nas cenas em que estão sózinhos do que quando seria
suposto evidenciarem a chama de um jogo de sedução entre os dois, que não
chega a ser convincente), explicam como o filme falha naquilo que é a sua
essência, a chamada comédia romântica.

No entanto nem tudo se perdeu da história original, e evidentemente o filme
de Norman Jewison não era também uma obra-prima.

Se o aspecto romântico é menos valorizado no presente filme, "O caso Thomas
Crown" consegue atingir um nível interessante nas sequências onde o prazer
do jogo parece conduzir os personagens (e são pontuadas pelas sessões de
Brosnan com uma psiquiatra que é precisamente a Faye Dunaway do filme
original , como o seu advogado Ben Gazzara, num papel quase mudo, parece
conseguir recriar a presença de Steve McQueen entretanto falecido).

É assim que a cena final no museu, em que o protagonista devolve o quadro,
iludindo por uma magnífica encenação a vigilância da polícia, é talvez o
momento mais brilhante do filme, no entanto suficientemente desigual para
falhar completamente a sequência supostamente paradisíaca na Martinica
(ainda, e uma vez mais, a dificuldade de tornar crível o romance de Pierce
Brosnan e Rene Russo).

O jogo de "O caso Thomas Crown" baseia-se na sedução e na competição,
assente não no mistério do autor do crime (conhecido à partida), mas na
possibilidade de ser "apanhado". Por isso são significativas as peripécias
finais, e o entendimento da confiança e da liberdade, até um "happy end" que
é, se quisermos, a formação do casal no reencontro no avião, pacificado esse
jogo e resolvidas as resistências e desconfianças do solitário confesso nas
sessões psiquiátricas. A posse e o preço justo, o genuíno e a falsificação,
fazem parte de um essencial jogo da vida, trate-se de obras de arte ou, na
realidade, do plano sentimental.

A.Roma Torres

in http://www.terravista.pt/Enseada/1014/cinema112.htm

Cumprimentos
Luis Baptista
Lena Martins
2004-04-01 00:26:49 UTC
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Post by Luis Baptista
O caso Thomas Crown
104 linhas a falar de um filme que nao vale a fita em que foi
gravado? Incrivel! :)

Lena, mazinha
MAD
2004-04-01 19:27:00 UTC
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Post by Lena Martins
Post by Luis Baptista
O caso Thomas Crown
104 linhas a falar de um filme que nao vale a fita em que foi
gravado? Incrivel! :)
Lena, mazinha
- Tu não és mázinha! És realista.

http://marcolopes.pt.to

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